O nome é de casa famosa de Francesinhas no Porto. Menos um. A Irmandade juntou-se após um interregno, desta feita com um convidado que já estava mais habituado ao Flæskesteg ou Smørrebrød, ou seja, numa fase da vida em que já não está para esquisitices. E então decidimos que não ia haver votações, nem coisa que o valha. Só o simples e também sedutor “cumere e bubere”. Naquela que parecia ser uma relativamente agradável noite de Dezembro, mas em que depois acabamos por ver passar o Russell Crowe a filmar o Noé, lá fomos nós para o Bonfim, freguesia com nome irónico e que nos faz acreditar mais na segunda parte que na primeira.
O restaurante situa-se mesmo à frente da Igreja do Bonfim, que o controla, lá do topo da sua escadaria. Se o Rocky fosse adepto da Francesinha, não tenho dúvidas que escalava aqueles degraus 2 a 2 para no final levantar os braços no ar em jeito de “já fiz a digestão”. O sinal luminoso sobre a porta orgulhosamente ostenta o I no nome, o que acaba por parecer estranho pois se nada tem que ver o II, então o primeiro não precisava de distinção. Ao menos que fosse o Capa Negra Henriques. E pronto, já está a nossa habitual crítica ao nome dos estabelecimentos.
Sentamo-nos numa das poucas mesas vazias do piso térreo, explicamos ao que vínhamos (Francesinha com batata e sem ovo, principe gelado) e pedimos umas entradas, que o ratito já apertava. Conversamos. Da vida, da crise, da emigração. De ir, de voltar. Do frio, do ainda mais frio noutros sítios onde a vida nos leva. Da bola, do quase premonitório empate a 3 a 33 pontos. De tudo e de nada. Como precisamente 3 anos antes, em que um grupo de amigos se juntou à volta de uma mesa para descobrir a melhor Francesinha do mundo, quando na verdade estava a criar uma bela e útil mas esfarrapada desculpa para se juntarem, beber uns canecos e conversar. De tudo e de nada.
Entretanto chegam as nossas companheiras de luta, quentes como sabe bem e mais uma rodada de príncipes, gelados como deve ser. Talvez por já termos “virado muito frango” (que no nosso caso é mais queijo, carne e enchidos, pão, mais queijo e molho), às vezes parece que temos aquela sensação de que é apenas mais uma. Possivelmente em consequência da ultra-culpada crise, a impressão é que os ingredientes do recheio não terão qualidade por aí além, nomeadamente em comparação com à sua quase homónima do II. Assim, não será propriamente uma experiência degustativa memorável, embora o ambiente e o atendimento sejam precisamente aquilo que procurávamos numa casa de Francesinhas.
Por ser uma ocasião festiva, lá tivemos que ir “soprar umas velas” em forma de Gin Tónico. Como 3 anos antes, em que já bebíamos Gin Tónico, só que era transparente, em copos normais, sem matéria orgânica e com água tónica da única marca que alguma vez tínhamos ouvido falar.
E assim surge esta crónica, tão difícil de escrever como as outras, apenas com o inconveniente de ter muitas mãos e os teclados serem pequenos. Foi escrita ao longo dos tempos e demorou muito a sair do forno. Mas está pronta. Chegamos ao fim desta parte I da nossa aventura. São 44 avaliações, a resposta para a questão da vida, do universo e de tudo e mais duas ainda. É um número composto e abundante, tal como as nossas vivências gastronómicas. Mas tudo o que começa tem um fim e este foi um bom fim. Temos que vos agradecer, os restantes membros da nossa Irmandade que nos acompanharam, incentivaram, abanaram a cabeça quando liam as nossas parvoíces. As crónicas terminam por agora, mas o registo histórico continuará. Já há casas que fecharam, gerências que mudaram, francesias vegetarianas acrescentados aos menus, mas ficará esta fotografia de exposição prolongada da nossa região, da nossa gastronomia, de nós. Este espaço continua agora para vocês. Usem-no, partilhem-no, traduzam para os vossos amigos estrangeiros, façam os vossos comentários. Até sempre, estaremos por aí.